26 de out. de 2010

A Palavra do Bardo Rodrigo Santos

Muito me surpreendi ao ver a resenha que o meu amigo, poeta e escritor tavernista, Rodrigo Santos publicou de surpresa na comunidade do Orkut do evento Uma Noite na Taverna. Um texto que me deixou emocionado sobre o livro que faço a questão inusitada de republicar especialmente hoje, que o bardo faz aniversário. Evoé, amigo! E felicidades!


Tudo Que Morre é Consumado
por Rodrigo Santos

Bom, não é novidade para os integrantes desta comunidade que no próximo dia 12 de novembro o poeta Romulo Narducci estará lançando segundo livro de poesias, "Tudo que morre é consumado", no evento "Uma Noite na Taverna" em homenagem à Florbela Espanca.

Pois bem... Ser amigo de gigantes nos traz certos privilégios, e um deles foi o de poder ter em mãos ANTES de todos a referida obra.

"Tudo que morre é consumado" é um marco na poesia brasileira, e digo isso sem o menor comprometimento de amizade. Bem diagramado, bem FEITO, e com as excelentes poesias do Mestre Romulo Narducci, expoente máximo da poesia gonçalense - e brasileira.

A poesia brasileira sofreu um golpe muito pesado com a Semana de Arte Moderna, quando se instituiu um badauê generalizado, atribuindo o conceito de "arte" a qualquer produção. Os benefícios de inclusão social e quebra de paradigmas não são suficientes para compensar a erosão do Sublime, da beleza, no fazer poético.

De lá para cá, vários poetas se destacaram, a ferro e fogo. Mas tirando esses mestres de brilho próprio, muita merda foi - e É- produzida e chamada levianamente de poesia.

Romulo Narducci é um artesão da palavra, um poeta no sentido clássico - mesmo sabendo usar as benesses da liberdade formal, liberdade sem libertinagem literária, e seus poemas refletem a angústia e a dor emparelhadas com a delícia e o hedonismo em ser humano. "Tudo que morre é consumado" foi pensado para ser um grande livro, e o é. Finca de vez a bandeira tavernista no cenário literário nacional, e nela tremula a flâmula do poeta Romulo Narducci.

Orgulhoso de, além de ser seu amigo, ser seu contemporâneo, só posso aplaudir: EVOÉ, ROMULO NARDUCCI!


21 de out. de 2010

A Capa

O título já bombardeava minha cabeça. Muito custou para que eu achasse uma imagem ideal que traduzisse tudo aquilo que o miolo do livro contém. Por muito tempo, enquanto reunia os poemas para o Tudo Que Morre é Consumado eu tinha guardado comigo uma imagem anônima achada na internet de uma menininha sentada sobre uma mesa rústica com um crânio posto em seu colo. Mas, de uma forma ou de outra, o anonimato daquela imagem me incomodava, e não era somente por esse fato, a cosntituição da capa seria muito clichê. Guadeia-a comigo por questão desencargo de consciência até que achasse o que eu conseiderasse ideal.
Foi numa revista sobre arte - Discutindo Arte -, numa matéria intitulada "Grotesco", assinada por Ricardo Bezerra, que tive pela primeira vez algum contato com o nome da artista plástica Jenny Saville. O meu interesse pelo seu trabalho levou-me para a internet no intuito de pesquisar tudo o que eu pudesse sobre a artista plástica inglesa. E foi quando me deparei com o que muitas pessoas poderiam chamar de... grotesco (?). Quando vislumbrei a imagem de um de seus quadros, chamado Shift, foi como num impacto: "É essa! É a capa que eu quero!" As mulheres mortas enfileiradas não traduzem somente a idéia de cadáveres, vai além, é uma idéia ainda mais profunda do próprio conceitual de morte, pois o princípio feminino é o princípio da própria vida. Sem o feminino tudo é vazio, morto. A própria arte vem do princípio anima, do feminino. Escolhida a imagem da capa, parti para a missão de convocar a ajuda dos amigos, os poetas Eduardo H Martins (que me ajudou na conepção, na idéia inicial da capa) e Rodrigo Santos (que arrumou a bagunça formatando e arte-finalizando) me deram toda a força necessária, e assim nascia as vestes que consagrei dignas para mais uma obra.

Shift

JENNY SAVILLE

Nascida em Cambridge em 1970, a pintora inglesa, que faz parte do grupo Young British Artists, é mais conhecida pelos seus retratos de mulheres em grande escala.
Sua pintura já foi comparada a de Lucian Freud. Espatuladas ao invés de pinceladas, a tinta, de forte pigmentação, dá uma impressão muito mais viva da corporalidade das formas humanas.
Desde o seu debut, em 1992, o foco de Jenny é no corpo feminino. Seus esboços publicados e materiais de pesquisa incluem fotografias de lipoaspirações, lesões corporais, deformidades, doenças variadas e pacientes transexuais.
A artista cursou a Glasgow School of Art entre 1988 e 1992, e recebeu uma bolsa de seis meses da University of Cincinnati, onde ela afirma ter visto:

“…diversas mulheres acima do peso. Grandes pedaços de carne branca dentro de shorts e camiseta. Era bom ver este tipo de coisa pois elas tinham justamente a fisicalidade que eu procurava.”

Entre 1992 e 1993 ela estudou na Slade School Of Art. No ano de finalização de sua pós-graduação, o famoso colecionador britânico de arte Charles Saatchi comprou toda a sua exposição e ainda patrocinou a produção de dois anos de pintura. Em 1994 a artista passou algumas horas observando cirurgias plásticas em Nova York. Hoje ela vive e trabalha em Londres e é tutora de pintura figurativa na Slade School of Art.


Conheça mais sobre a artista:


19 de out. de 2010

Se tudo que vive é sagrado...


Quando pensei em editar um livro de poesia com a temática sobre morte, não roguei em fazê-lo. Confesso que a idéia, inclusive o nome do título já era algo que martelava e muito dentro de minha cabeça atormentada por produções. Sempre vivi no idílio de me antecipar aos meus fazeres artísticos, pois enquanto eu mal terminava - há exatos dois anos atrás - de lançar o meu primeiro livro de poesia "Orações Licenciosas", já havia formulado no meu íntimo que o meu segundo livro de poesia abordaria as minhas primeiras influências. Essas influências serviram para me impulsionar com mais intensidade e paixão para o mundo da literatura poética. Quando tive contato pela primeira vez com uma oficina de teatro, no Centro Cultural Joaquim Lavora, em São Gonçalo no ano de 1991, eu ainda não tinha nenhuma idéia conceitual artística, apesar de já ensaiar alguns versos no papel, achando estar escrevendo música para uma possível banda de Rock em que eu sonhava em fazer parte. Na bagagem, trazia somente a experiência "clownesca" dos shows de palhaço que fazia com meu pai desde os sete anos de idade.

O teatro me vestiu de novos conceitos. Me trouxe lirismo e uma forma de ver o mundo como antes jamais o enxergava, rompeu com preconceitos que eu trazia na cartilha conservadora de minha família que se dividia entre o catolicismo e a umbanda, quebrou com a minha timidez e me fez um sonhador que jamais suportou ficar parado esperando que o sonho acontecesse. O teatro me apresentou a três figuras que fizeram a poesia se instalar assumidamente em meu dia a dia com paixão e afinco, foram eles: Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud e Dante Alighieri. Dentre os três, identifiquei-me de imediato com a obra As Flores do Mal, de Baudelaire. E foi na colheita dessas flores, impulsionado pela música Rock, que já era também uma outra paixão (tanto que me levou a formar uma banda chamada Divina Comédia posteriormente, mas isso é uma outra história), comecei a dar uma intensidade maior a escrever os meus versos.

A primeira poesia de fato a nascer, traçada por uma caneta esferográfica preta sobre a floha de um caderno, foi Tempo de Um Mortal (pág. 23), pouco antes de ter contato com o teatro, escrita no ano de 1989. Curiosamente, antes mesmo de conhecer poesia de Baudelaire, de uma forma curiosa, o estilo já estava abrigado em mim. O poema mostrou a faceta do questionamento de todo o tédio e dúvidas que me cercavam na época. O escrevi pensando em música, mas como muitos outros, percebi que o que estava nascendo não era um compositor, mas um poeta. 

Com o tempo outras influências fora incidindo em minha escrita, ampliei o conhecimento da poesia maldita e deixei me consumir por Lord Byron, Augusto dos Anjos, Fernando Pessoa e Álvares de Azevedo. Unindo ao estilo byroniano veio ainda a minha paixão pela arte da Contracultura, dos fabulosos Beatniks, que entraram em minha arte como uma luz diáfana pela janela de um quarto escuro. A Beat Generation me libertou da forma ortodoxa de escrever poesia, libertou minha escrita que fluia conforme a inspiração me impulsionava. A morte, no entanto, fora um tema sempre abordado em minha poesia. Na verdade, ainda é. O livro que trago até vocês, vem reunindo uma gama de poemas que venho escrevendo desde a eclosão da arte poética em minha vida, até os últimos dias de edição do mesmo. Foram três meses selecionando, catalogando e editando essa minha novíssima obra, cada poesia fora escolhida e colocada em seu devido lugar e numa devida ordem dentro do livro, no intuito de fazer o leitor viajar através de suas páginas se deleitando com as conecções. Apesar de muitos poemas se distanciarem cronologicamente uns dos outros, será percebido que há uma ligação íntima em cada um.  

Tudo Que Morre é Consumado é meu segundo livro de poesia. A capa a ser escolhida foi uma questão que por algum tempo me assombrou. Quando me deparei com o quadro Shift, da artista plástica britânica Jenny Saville, tive a certeza imediata: seria este o portal para a minha obra. A arte do grotesco expressada por Jenny Saville em suas é sempre expressiva, reflexiva e polêmica. O meu intuito, admito, não foi gerar polêmica ao vestir meu livro com uma capa que trazia a imagem de várias mulheres mortas, foi de inopino que tomei a decisão, foi um impacto visual que me fez dizer: É isso que eu quero! E mesmo titubeando, com a asperação de que talvez não o fosse, nada que vislumbrava se encaixava no lugar. O livro, enfim, em seu conteúdo geral, é uma crítica ao ser humano, que diante de crenças e descrenças, apesar de toda sua vocação intelectual, age como um ser primitivo e destruidor, rogado de ganância e egoísmo. Diante de tudo, ser ateu, teísta ou agnóstico, dúvidas e mais dúvidas sobre o ser e o não ser, a obra nos apresenta de forma nua e crua uma única certeza: a morte. E é isso que o meu livro impõe. Na verdade, um livro sobre a temática de morte que de uma forma ou de outra, nos leva a pensar na própria vida. Pois se tudo que vive é sagrado, tudo que morre é consumado!